sábado, 5 de janeiro de 2013

UM CASAMENTO EM CRISE
(Conto)
 
- I -
O Pedro Silva sempre manteve um ótimo relacionamento com os seus colegas de repartição. Era reconhecido por todos como um cara apaixonado pela esposa e os filhos.
O Gilberto, considerado o seu melhor amigo, começou a notar algumas mudanças no humor de Pedro. Preocupado com o amigo, na primeira oportunidade que teve na hora do cafezinho da tarde, falou com ele:
- O que há contigo, Pedro! Você está me escondendo algum problema que está enfrentando? Você anda mal humorado, com um ar de tristeza que não corresponde ao Pedro que todos conhecemos e admiramos aqui na empresa?
- Nada Gilberto, nada... (dá um suspiro)
- Pedro, Pedro, Pedro! Você está me escondendo alguma coisa!
- Outro dia eu te conto...
         O Gilberto, preocupado com o amigo, combinou com o chefe da repartição que permitisse que o Pedro fosse com ele até o depósito do departamento de material, pois ele queria ficar a sós com o Pedro e descobrir o que estava acontecendo com ele.
         O chefe concordou e lá se foram os dois cumprirem uma ordem do chefe.
- Gil, você me trouxe aqui para que? Não entendo nada desses arquivos...
- Pedro, todos nós teus colegas e até o chefe, estamos preocupados. Você sempre foi a alegria da repartição. Sempre feliz, dando aulas de bom humor. O que está acontecendo contigo?
- Desculpa Pedro! Mas tudo é muito pessoal. Não gostaria de revelar...
- Pedro, não sou o teu melhor amigo? Pelo menos você sempre disse isso.
- Claro que é! Ainda duvidas da nossa amizade?
- Quanto à amizade, não. Mas, o que está acontecendo contigo?
- Bem. O que está me deixando com mau humor são as mudanças no tratamento comigo de parte da Maria, minha mulher...
- Como assim?
- Bem, acontece que, quando de nossos primeiro encontro no qual a pedi em namoro, nos apaixonamos. Ela tinha tudo que eu procurava em uma mulher. Além de ser uma jovem de boa família, ela também desejava se casar, ter filhos e educá-los com um mãe dedicada e uma boa dona de casa. Era exatamente o que eu procurava.
Assim nos casamos e fomos felizes até a alguns tempos atrás. Hoje ela está diferente no relacionamento comigo. Antes eu era o seu ídolo, ela procurava me agradar, era carinhosa, charmosa e cheia de dengos comigo. As poucas vezes em que nos desentendemos logo chegávamos a um entendimento, e tudo voltava ao normal, ou seja, um ótimo convívio entre marido e mulher que se amam de verdade.
Agora ela está mudada, ela é que sabe tudo, só ela tem razão. Não é mais aquela mulher carinhosa que sempre foi. Não tem mais aqueles dengos que tanto me empolgavam, os charminhos desapareceram e também aquelas demonstrações femininas de bem querer que me empolgavam.
- Pedro, você andou aprontando alguma para ela?
- Claro que não! Como você sabe, sou religioso e respeito demais o nosso casamento...
- Você já falou para ela sobre isso que me contou?
- Dei a entender várias vezes. Parece que ela não gosta mais de mim. Acho que me atura porque se acostumou comigo...
- Não acredito Pedro. A Maria sempre demonstrou que de adora! Todos nós da repartição sabemos que ela vive para você e os filhos. A minha mulher gosta muito dela e vive dizendo que a Maria é um exemplo de dedicação ao esposo e aos filhos. E religiosa como ela é sempre soube ela vive rezando pela felicidade da família...
- Pois é. Nós dois somos companheiros há muitos anos, e a dedicação dela sempre foi exemplar. Só que agora ela está diferente. E, eu adoraria ter de volta a minha Maria dengosa, amorosa, simples e apaixonada por mim...
- Pedro, você permite que eu fale com ela sobre esse assunto?
- Não! Absolutamente não! Isso é coisa que só marido e mulher devem tratar. Estou dando tempo ao tempo. Se a situação se agravar mais e eu não suportar, aí então tomarei alguma providência.
- Pedro, espero que resolvas o teu problema com Maria o mais rápido possível, pois o pessoal da repartição anda muito preocupado contigo.
- Eu também ando muito preocupado. Mas, se o bom Deus me ajudar, melhores dias virão. Só espero que não demore muito, pois já estou com uma enorme saudade da minha Maria!
 
Meu leitor, há um mês fui transferido para outro departamento, entrei de férias e nunca mais soube notícias do Pedro. Prometo que, assim que eu saiba como ele resolveu o problema com a esposa, contarei para vocês.  
     
- II -
Recebi um e-mail do Pedro, meu ex-colega de trabalho, sim ex porque fui transferido para outro Departamento do Órgão Federal onde somos concursados e trabalhamos a vários e bons anos.
         Como eu ia dizendo, o Pedro enviou-me uma mensagem comentando que desejava encontrar-se comigo para, além de matar as saudades, conversarmos sobre os problemas que tanto preocupou os amigos e colegas de repartição. Mas no encontro para o nosso bate-papo eu deveria levar junto a minha esposa, pois ele estaria com a Maria ao seu lado.
         Confesso aos meus pacientes leitores que vibrei bastante ao ler o e-mail do Pedro. Pelo visto ele deve ter se entendido com a esposa e tudo teria voltado ao normal na vida desse casal tão querido por todos que os conhecem.
         Antes de responder ao convite do Pedro tratei de conversar longamente com a minha esposa. Relutei muito, pois minha companheira de muitos anos também andava um pouco diferente comigo.
         Foram semanas de meditação e análise de nossa vida de casados, pois nada era tão grave como a situação vivida pelo Pedro e a Maria. Vai que sobrasse para mim uma reação desfavorável de minha mulher...
         Fui preparando minha companheira para que eu abordasse o assunto sem provocar um auê entre nós dois...
         Com a minha demora em responder ao Pedro, ele se preocupou e enviou-me outro e-mail.
         Ele perguntou: “Como é, os meus problemas já não interessam mais ao amigo?”.
         Não tive outra saída, tratei logo de preparar o ambiente lá em casa e marquei com a “Patroa” fazermos uma visita a um restaurante a três quadras de onde moramos.
         Foi um jantar tranquilo. Conduzi o assunto ao caso do Pedro e da Maria e contei do convite recebido para um jantar com o casal de amigos.
         Ela quis saber detalhes dos problemas deles e foi o momento que eu esperava. Contei tintim por tintim o que eu sabia a respeito. Claro que aproveitei para destacar, com muita habilidade, os problemas que eram semelhantes aos nossos.
         Foi um belo de um jantar. Ao chegarmos a casa, ela me abraçou sorrindo e agradeceu as rosas que lhe ofertei no final do jantar. O buquê com 12 rosas vermelhas estava acompanhado de uma declaração de amor.
         Como acontece nessas ocasiões, ela foi pra o quarto trocar de roupa e eu fui tomar conhecimento das mensagens enviadas pelos meus contatos na Internet. Gritei para ela:
- Benhêê, eu posso marcar o jantar com o Pedro e a Maria?
-Claro, meu amor! Vamos comemorar com eles, pois tenho certeza que o amor deles está dando muito certo.
         Mandei um e-mail ao Pedro dizendo que ligaria para ele a fim de marcarmos o encontro.
        Minhas atividades no novo departamento eram muito mais envolventes do que aquelas a que estava acostumado. Mesmo assim uma semana depois me dei conta de que estava falhando com o amigo. Liguei e o Pedro marcou um jantar para o dia seguinte. O restaurante que ele escolheu eu conhecia.
         No horário marcado, vinte horas, eu e a minha mulher estávamos esperando os amigos.
         A surpresa foi que o Pedro estacionou o carro perto do nosso e notei que ele saiu do veículo, deu a volta e foi abrir a porta para a esposa sair.
A gentileza dele foi notada pela minha mulher, que falou:
- Viu querido, ele abriu a porta para a esposa sair e a abraçou para virem em nossa direção!
- Vi, sim. Ela deve ter voltado a ser carinhosa com ele...
- Notei que ela envolveu o pescoço dele com a mão...
- Eu notei. Sinal que o casal está mesmo em plena lua de mel...
- Que bonito. Gosto de ver um casal assim.
- E, eu gosto é de ser um casal assim!
- Eu também, querido!
         O Pedro e a Maria chegaram junto a nós e após os respectivos cumprimentos, entramos no restaurante.
         Conseguimos uma mesa bem discreta e confortável. Logo a seguir a Maria convidou minha esposa para irem “retocar a maquiagem”.
Não aguentei e perguntei ao Pedro:
- Pedro, porque será que as mulheres nunca vão ao banheiro fazer aquilo que nós homens fazemos? Sempre vai “retocar a maquiagem”...
- Isso eu não sei explicar. Mas, a minha vida voltou ao normal. A Maria foi aconselhada por uma amiga a consultar um Ginecologista, quando ela alegou que a libido dela estava quase à zero. A médica recomendou que ela se tratasse também com uma psicóloga. Foi um mês e pouco de tratamento e a Maria voltou a ser carinhosa comigo e nossa vida sexual voltou ao normal...
- Que bom Pedro. Quer dizer que você também voltou ao normal? Os colegas de repartição pararam de reclamar de teu mau humor?
- A minha vida voltou a seguir as trilhas do amor fraterno, das amizades e me sinto aquele Pedro que o pessoal gosta, pois seguidamente os colegas me abraçam e dizem: Bem vindo novamente à vida, Pedro!
- Que bom, meu amigo. Agora vou escrever aos meus amigos contando onde eu me inspirei para escrever o conto “UM CASAMENTO EM CRISE”. Perdoa-me, pois me inspirei em você...
- Nada a reclamar, meu bom amigo Gil.
         Nesse momento as esposas voltaram e pedimos o jantar, que transcorreu na mais completa cordialidade e amizade.
 
                                     THE END

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