UM CASAMENTO EM CRISE
(Conto)
- I -
O Pedro Silva sempre
manteve um ótimo relacionamento com os seus colegas de repartição. Era
reconhecido por todos como um cara apaixonado pela esposa e os filhos.
O Gilberto,
considerado o seu melhor amigo, começou a notar algumas mudanças no humor de
Pedro. Preocupado com o amigo, na primeira oportunidade que teve na hora do
cafezinho da tarde, falou com ele:
- O que há contigo, Pedro! Você está me
escondendo algum problema que está enfrentando? Você anda mal humorado, com um
ar de tristeza que não corresponde ao Pedro que todos conhecemos e admiramos
aqui na empresa?
- Nada Gilberto, nada... (dá um suspiro)
- Pedro, Pedro, Pedro! Você está me
escondendo alguma coisa!
- Outro dia eu te conto...
O
Gilberto, preocupado com o amigo, combinou com o chefe da repartição que
permitisse que o Pedro fosse com ele até o depósito do departamento de
material, pois ele queria ficar a sós com o Pedro e descobrir o que estava
acontecendo com ele.
O
chefe concordou e lá se foram os dois cumprirem uma ordem do chefe.
- Gil, você me trouxe aqui para que? Não
entendo nada desses arquivos...
- Pedro, todos nós teus colegas e até o
chefe, estamos preocupados. Você sempre foi a alegria da repartição. Sempre
feliz, dando aulas de bom humor. O que está acontecendo contigo?
- Desculpa Pedro! Mas tudo é muito pessoal.
Não gostaria de revelar...
- Pedro, não sou o teu melhor amigo? Pelo
menos você sempre disse isso.
- Claro que é! Ainda duvidas da nossa
amizade?
- Quanto à amizade, não. Mas, o que está
acontecendo contigo?
- Bem. O que está me deixando com mau humor
são as mudanças no tratamento comigo de parte da Maria, minha mulher...
- Como assim?
- Bem, acontece que, quando de nossos primeiro
encontro no qual a pedi em namoro, nos apaixonamos. Ela tinha tudo que eu
procurava em uma mulher. Além de ser uma jovem de boa família, ela também
desejava se casar, ter filhos e educá-los com um mãe dedicada e uma boa dona de
casa. Era exatamente o que eu procurava.
Assim nos casamos e
fomos felizes até a alguns tempos atrás. Hoje ela está diferente no
relacionamento comigo. Antes eu era o seu ídolo, ela procurava me agradar, era
carinhosa, charmosa e cheia de dengos comigo. As poucas vezes em que nos desentendemos
logo chegávamos a um entendimento, e tudo voltava ao normal, ou seja, um ótimo
convívio entre marido e mulher que se amam de verdade.
Agora ela está
mudada, ela é que sabe tudo, só ela tem razão. Não é mais aquela mulher
carinhosa que sempre foi. Não tem mais aqueles dengos que tanto me empolgavam,
os charminhos desapareceram e também aquelas demonstrações femininas de bem
querer que me empolgavam.
- Pedro, você andou aprontando alguma para
ela?
- Claro que não! Como você sabe, sou
religioso e respeito demais o nosso casamento...
- Você já falou para ela sobre isso que me
contou?
- Dei a entender várias vezes. Parece que ela
não gosta mais de mim. Acho que me atura porque se acostumou comigo...
- Não acredito Pedro. A Maria sempre
demonstrou que de adora! Todos nós da repartição sabemos que ela vive para você
e os filhos. A minha mulher gosta muito dela e vive dizendo que a Maria é um
exemplo de dedicação ao esposo e aos filhos. E religiosa como ela é sempre
soube ela vive rezando pela felicidade da família...
- Pois é. Nós dois somos companheiros há
muitos anos, e a dedicação dela sempre foi exemplar. Só que agora ela está
diferente. E, eu adoraria ter de volta a minha Maria dengosa, amorosa, simples
e apaixonada por mim...
- Pedro, você permite que eu fale com ela
sobre esse assunto?
- Não! Absolutamente não! Isso é coisa que só
marido e mulher devem tratar. Estou dando tempo ao tempo. Se a situação se
agravar mais e eu não suportar, aí então tomarei alguma providência.
- Pedro, espero que resolvas o teu problema
com Maria o mais rápido possível, pois o pessoal da repartição anda muito
preocupado contigo.
- Eu também ando muito preocupado. Mas, se o
bom Deus me ajudar, melhores dias virão. Só espero que não demore muito, pois
já estou com uma enorme saudade da minha Maria!
Meu leitor, há um mês fui transferido para outro
departamento, entrei de férias e nunca mais soube notícias do Pedro. Prometo
que, assim que eu saiba como ele resolveu o problema com a esposa, contarei
para vocês.
- II -
Recebi um e-mail do Pedro,
meu ex-colega de trabalho, sim ex porque fui transferido para outro
Departamento do Órgão Federal onde somos concursados e trabalhamos a vários e
bons anos.
Como
eu ia dizendo, o Pedro enviou-me uma mensagem comentando que desejava
encontrar-se comigo para, além de matar as saudades, conversarmos sobre os
problemas que tanto preocupou os amigos e colegas de repartição. Mas no
encontro para o nosso bate-papo eu deveria levar junto a minha esposa, pois ele
estaria com a Maria ao seu lado.
Confesso
aos meus pacientes leitores que vibrei bastante ao ler o e-mail do Pedro. Pelo
visto ele deve ter se entendido com a esposa e tudo teria voltado ao normal na
vida desse casal tão querido por todos que os conhecem.
Antes
de responder ao convite do Pedro tratei de conversar longamente com a minha
esposa. Relutei muito, pois minha companheira de muitos anos também andava um
pouco diferente comigo.
Foram
semanas de meditação e análise de nossa vida de casados, pois nada era tão
grave como a situação vivida pelo Pedro e a Maria. Vai que sobrasse para mim
uma reação desfavorável de minha mulher...
Fui
preparando minha companheira para que eu abordasse o assunto sem provocar um
auê entre nós dois...
Com
a minha demora em responder ao Pedro, ele se preocupou e enviou-me outro
e-mail.
Ele
perguntou: “Como é, os meus problemas já não interessam mais ao amigo?”.
Não
tive outra saída, tratei logo de preparar o ambiente lá em casa e marquei com a
“Patroa” fazermos uma visita a um restaurante a três quadras de onde moramos.
Foi
um jantar tranquilo. Conduzi o assunto ao caso do Pedro e da Maria e contei do
convite recebido para um jantar com o casal de amigos.
Ela
quis saber detalhes dos problemas deles e foi o momento que eu esperava. Contei
tintim por tintim o que eu sabia a respeito. Claro que aproveitei para
destacar, com muita habilidade, os problemas que eram semelhantes aos nossos.
Foi
um belo de um jantar. Ao chegarmos a casa, ela me abraçou sorrindo e agradeceu
as rosas que lhe ofertei no final do jantar. O buquê com 12 rosas vermelhas
estava acompanhado de uma declaração de amor.
Como
acontece nessas ocasiões, ela foi pra o quarto trocar de roupa e eu fui tomar
conhecimento das mensagens enviadas pelos meus contatos na Internet. Gritei
para ela:
- Benhêê, eu posso marcar o jantar com o
Pedro e a Maria?
-Claro, meu amor! Vamos comemorar com eles,
pois tenho certeza que o amor deles está dando muito certo.
Mandei
um e-mail ao Pedro dizendo que ligaria para ele a fim de marcarmos o encontro.
Minhas atividades no novo departamento eram muito mais envolventes do
que aquelas a que estava acostumado. Mesmo assim uma semana depois me dei conta
de que estava falhando com o amigo. Liguei e o Pedro marcou um jantar para o
dia seguinte. O restaurante que ele escolheu eu conhecia.
No
horário marcado, vinte horas, eu e a minha mulher estávamos esperando os
amigos.
A
surpresa foi que o Pedro estacionou o carro perto do nosso e notei que ele saiu
do veículo, deu a volta e foi abrir a porta para a esposa sair.
A gentileza dele foi
notada pela minha mulher, que falou:
- Viu querido, ele abriu a porta para a
esposa sair e a abraçou para virem em nossa direção!
- Vi, sim. Ela deve ter voltado a ser
carinhosa com ele...
- Notei que ela envolveu o pescoço dele com a
mão...
- Eu notei. Sinal que o casal está mesmo em
plena lua de mel...
- Que bonito. Gosto de ver um casal assim.
- E, eu gosto é de ser um casal assim!
- Eu também, querido!
O
Pedro e a Maria chegaram junto a nós e após os respectivos cumprimentos,
entramos no restaurante.
Conseguimos
uma mesa bem discreta e confortável. Logo a seguir a Maria convidou minha
esposa para irem “retocar a maquiagem”.
Não aguentei e
perguntei ao Pedro:
- Pedro, porque será que as mulheres nunca
vão ao banheiro fazer aquilo que nós homens fazemos? Sempre vai “retocar a
maquiagem”...
- Isso eu não sei explicar. Mas, a minha vida
voltou ao normal. A Maria foi aconselhada por uma amiga a consultar um
Ginecologista, quando ela alegou que a libido dela estava quase à zero. A
médica recomendou que ela se tratasse também com uma psicóloga. Foi um mês e
pouco de tratamento e a Maria voltou a ser carinhosa comigo e nossa vida sexual
voltou ao normal...
- Que bom Pedro. Quer dizer que você também
voltou ao normal? Os colegas de repartição pararam de reclamar de teu mau
humor?
- A minha vida voltou a seguir as trilhas do
amor fraterno, das amizades e me sinto aquele Pedro que o pessoal gosta, pois
seguidamente os colegas me abraçam e dizem: Bem vindo novamente à vida, Pedro!
- Que bom, meu amigo. Agora vou escrever aos
meus amigos contando onde eu me inspirei para escrever o conto “UM CASAMENTO EM
CRISE”. Perdoa-me, pois me inspirei em você...
- Nada a reclamar, meu bom amigo Gil.
Nesse
momento as esposas voltaram e pedimos o jantar, que transcorreu na mais
completa cordialidade e amizade.
THE END
Nenhum comentário:
Postar um comentário